terça-feira, 1 de setembro de 2009

Saber perguntar é poder conhecer

“E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus” 
João 9:1,2





Em um determinado momento da minha vida, me vi diante de um beco sem saída, defrontado com uma questão que – naquela ocasião – me parecia a questão-chave da minha vida. Por diversos dias orei, buscando saber de Deus que rumo tomar. Por que aquilo estava acontecendo? Como deveria me comportar? Qual a razão de tudo isso?

Por um bom tempo, não obtive resposta de Deus. Percebi, então, que as minhas perguntas já pressupunham uma expectativa de respostas. Se você fez vestibular, deve conhecer um tipo de questão cuja resposta é um número entre zero e 99. Se você quiser responder “pato”, não encontrará maneira de expressar essa resposta. Foi o que me aconteceu. O que Deus tinha a me dizer não se enquadrava no tipo de resposta que eu estava esperando.

Quando desisti de receber minha resposta – da maneira e na forma como eu desejava – e procurei a Deus livremente, Ele falou comigo. A resposta de Deus foi: “Essa pergunta é irrelevante. Você não está fazendo a pergunta certa.”

Aprendi, então, que saber perguntar a Deus é o caminho para obter respostas mais diretas.

Quando os discípulos de Jesus se depararam com o homem cego, buscaram nos seus conhecimentos um padrão de fatos e evidências que pudesse justificar aquele evento. Na cultura judaica, acreditava-se que defeitos físicos de nascença eram conseqüência de pecados. Ao questionarem Jesus, os discípulos determinaram o tipo de resposta que esperavam ouvir – era uma pergunta de “marcar x”: ou o homem pecou, ou os pais pecaram.

A resposta de Jesus foi para eles, no mínimo, constrangedora. Jesus disse algo como: “nem um, nem outro”; ou “NDA - nenhuma das alternativas anteriores”.

A linha de raciocínio dos discípulos não estava errada em si. Uma vez que seus conhecimentos e suas tradições lhes diziam que aquele problema somente poderia ser decorrente de algum pecado ou falha contra Deus, certamente esta falha só poderia ser do cego ou da família. Os discípulos estavam olhando para a causa do problema – quem era o culpado por isso. Jesus aponta para o que Deus poderia fazer naquela situação – manifestar sua glória na vida daquele jovem. Muitas vezes, estamos como os seguidores de Jesus, olhando para o lado errado, sem entender o plano de Deus naquilo que estamos vendo.

Jesus freqüentemente está interessado em quebrar nossos paradigmas e nos libertar dos nossos conhecimentos prévios. Ele quer nos dar uma nova mente, com a qual possamos enxergar o mundo sob a Sua ótica. Assim Ele fez com os discípulos durante os dias que passou com eles. Muitas foram as ocasiões em que Jesus os repreendeu, exortou e corrigiu – não poucas vezes de maneira um tanto embaraçosa, em vista da radical diferença no modo de ver as coisas.

O agir do Espírito em nós nos proporciona uma nova mente, uma nova visão de mundo. Somos estrangeiros em terra estranha, a cultura desse mundo não é a cultura do Reino. Por isso, Deus nos apresenta a Sua maneira de enxergar as coisas.

O exemplo dos discípulos nos ajuda a melhor nos posicionarmos diante de Deus. Devemos fazer perguntas, para que possamos conhecer e prosseguir em conhecer a Deus. Mas precisamos estar de olhos, ouvidos e corações atentos à resposta, ainda que ela seja diferente do que esperamos. Nem sempre a resposta de Deus se encaixara no nosso “zero a 99”.

O Senhor nos dá a liberdade de perguntar tudo o que desejarmos saber, mesmo coisas complicadas e difíceis. Ele não é inseguro ou melindroso. Deus não teme nossos questionamentos. “Provai e vede que o Senhor é bom”. Ele nos desafia a “prová-lo”. Certamente não nos atingirá com raios enfurecidos se perguntarmos coisas tolas ou absurdas. Mesmo quando, irritados e indignados, nos voltamos para Deus com protestos e reclamações, ele nos aconselhará gentilmente, e nos guiará para um caminho mais reto.

O que o nosso Pai deseja é que tenhamos relacionamento com Ele. Da mesma forma como nós mesmos preferimos conversar com um filho confuso e irritado, do que não se relacionar com ele ou não saber o que se passa, assim é o Senhor. Ele quer relacionar-se conosco.

Deus deseja que sejamos filhos maduros, experimentados na palavra de justiça e com os sentidos exercitados (cf. Hebeus 3:14,15). Ele nos desafia a fazer questionamentos e a fortalecer a nossa fé. É preciso por em prática a capacidade de refletir, criticar, questionar e compreender - até onde for possível - tudo quanto nos rodeia. Nem mesmo Deus - inclusive sua revelação - deve estar além dos domínios da investigação, pois nada é possível conhecer de Deus se não for por Ele mesmo revelado a nós. É o Senhor que responde as perguntas a seu respeito.

Por tudo isso, é saudável e recomendado perguntar a Deus tudo o quanto se deseje conhecer. Mas não esperemos que as respostas sejam conforme as nossas expectativas. Que Deus possa quebrar nossos paradigmas, trocar nossas lentes e nos surpreender com uma nova visão de mundo.

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