segunda-feira, 24 de novembro de 2008

É preciso morrer para viver, porque (pela natureza) não é possível viver conforme a fé

(Esta reflexão foi enviada por e-mail ao Rev. Carlos Moreira em 13/nov/08)

Como podemos viver nesse mundo moderno, cheio de pressões, plano de carreira, metas, obrigações, estratégias?

Salomão, que de tudo fez e conheceu, no final disse: "é tudo como correr atrás do vento".
Devemos então desistir de ter um trabalho, estudar, pós-graduação, certificação,
mestrado, experiências? Se tudo não passa de correr atrás do vento, se afinal estamos apenas ajuntando tesouros na terra, os quais a traça come...? Será que Deus nos chama a todos para sermos como João Batista?

Jesus disse à multidão no sermão do monte:
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis.
("Eu sou o caminho, a verdade e a vida")
"Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.
"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína." (Mateus, 7: 13-27)

Ou seja,

temos um estreito caminho para percorrer, espremido, espinhoso e difícil, e no final ainda há uma porta estreitinha para atravessarmos.

Freud, em seu livro muito interessante chamado Mal-Estar da Civilização, analisa o porquê de vivermos angustiados e espremidos entre os nossos desejos e as regras da moral. Ele aponta que o homem é essencialmente egoísta e a-moral. Isso quer dizer que, movido pelo 'princípio do prazer', o ser humano, em seu estado 'natural', não mede esforços para realizar os seus desejos, quaisquer que sejam eles. Freud, em certa ocasião, diz que "as crianças são completamente egoístas; elas desejam intensamente e lutam sem cessar para satisfazer esses desejos". Essa é a natureza humana.

É como Paulo disse aos Romanos: "(5:12) Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram; (3:10-21) Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para
derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas;"

Até mesmo aos olhos dos homens (Freud) é possível compreender que o ser humano é mau; não há um justo sequer; até as crianças são rápidas em buscar seus próprios e egoístas desejos. É natural do homem enganar, matar, roubar.

A civilização surge, então, de acordo com Freud, como um grande acordo no sentido de reduzir o risco. O princípio do prazer leva as pessoas a buscarem os seus desejos ; na impossibilidade de conseguirem o que querem, buscam o menor des-prazer. Os seres humanos, coletivamente, perceberam que, ao criar regras e abrir mão de desejos individuais (tais como dormir com a mulher do vizinho ou possuir alguma propriedade alheia) se protegeriam de um des-prazer maior (tais como ter sua mulher ou seu carro roubados por alguém).

Mas, apesar de termos mudado o modo como vivemos, nós somos os mesmos. Por dentro ainda temos os mesmos instintos animais. A luta por refrearmos os nossos desejos em troca de uma moral contruída de fora pra dentro é a fonte da angústia da civilização. "A sociedade civilizada é perpetuamente ameaçada pela desintegração, através da hostitlidade primária dos homens, uns contra os outros", diz Freud.

Então, danou-se!

Pelo fruto conhecereis a árvore. "Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, o agricultor o corta" (jo 15:2a) "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam."(jo 15:5-6)

Como poderemos dar bons frutos se somos, nós humanos, nascidos e formados de espinheiro? Nosso DNA é de abrolhos, como podemos dar figos?

Paulo diz que nossa esperança está então na fé justificadora em Jesus:
"Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus"(Romanos, 3:22-26).

Mas nem a fé é 'turn-key'. Não basta então crer em Jesus; aceitá-lo como salvador e senhor; praticar boas obras; curar enfermos; expulsar demônios; empreender maravilhas e sinais. É uma fé exercida com esforço, disciplina. Fé de atleta. Fé militar. Fé espartana.

Se houvesse apenas uma porta estreita, bastava que nos espremêssemos por um pouco tempo. Mas não é uma porta, é um caminho. Quão longo é esse caminho? Deve ser tão longo quanto for a nossa vida nessa Terra... um longo caminho estreito (que parecerá bem menos longo quando, finalmente, tivermos cruzado a porta. ufa! ... até lá, contudo...).

E se em algum momento do estreito caminho nos cansarmos do espremido e darmos uma respirada fora? Quem serão aqueles a que Jesus dirá: "Vem cá...te conheço? Não. Não te conheço."

O desafio da fé em Jesus é que precisa ser exercitada diariamente, passo a passo. Precisamos escolher a cada passo prosseguir no (cada vez mais) estreito caminho. Tal escolha artificial, é psicótica, é contrária à natureza humana, contrária ao desejo e ao princípio do prazer. É loucura. Por isso é preciso morrer, porque não é possível ser homem e, ao mesmo tempo, permanecer na videiria.

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto." (João 12:24)

"Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte. Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra." (Romanos 4:5-7)

Começando um arquivo de idéias

Nota para mim mesmo:

É preciso exercitar a capacidade de refletir, criticar, questionar e compreender - até onde for possível - tudo quanto nos rodeia. Nem mesmo Deus - inclusive sua revelação - devem estar além dos domínios da investigação. Deus, ele mesmo, responde às perguntas feitas a seu respeito (se quiser); afinal, não será mesmo possível a niguém compreender coisa alguma acerca de Deus se ele mesmo não o revelar.

Se me foi emprestada uma tal moeda (a capacidade de investigar, sintetizar e descrever) não devo enterra-la. Devolverei-a multiplicada para lucro e honra de meu Senhor, o qual a mim a outorgou.

Para tanto, inicio esse blog como primeiro rascunho de um plano de negócios, cujo alvo é dobrar a quantidade de moedas que recebi.



"E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles. Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor." (Mateus 25:19-21)