quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A Boa Nova é uma sentença de morte

  "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, 
caindo na terra, não morrer, fica ele só; 
mas, se morrer, produz muito fruto." (João 12:24)


Como podemos viver nesse mundo moderno, cheio de pressões, metas, obrigações, estratégias? O Sábio de Eclesiastes, que de tudo fez e conheceu, no final afirmou: "é tudo como correr atrás do vento".  Isso significa que não vale a pena existir? Devemos então desistir de ter um trabalho, conhecimentos, titulações, certificados, experiências? Se tudo não passa de correr atrás do vento, se afinal estamos apenas ajuntando tesouros na terra, os quais a traça come... que valor há em existir? Será que Deus nos chama a todos para sermos como João Batista, como nazireus ?


Jesus disse à multidão no sermão do monte: "Entrai pela porta estreita. Larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela. Porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” Ou seja, temos um estreito caminho para percorrer, espremido, espinhoso e difícil, e no final ainda há uma porta estreitinha para atravessarmos.


Freud, em seu livro “Mal-Estar da Civilização”, analisa o porquê de vivermos angustiados e espremidos entre os nossos desejos e as regras da moral. Ele aponta que o homem é essencialmente egoísta e a-moral. Isso quer dizer que, movido pelo “princípio do prazer”, o ser humano, em seu estado “natural”, não mede esforços para realizar os seus desejos, quaisquer que sejam eles. Freud, em certa ocasião, diz que "as crianças são completamente egoístas; elas desejam intensamente e lutam sem cessar para satisfazer esses desejos". Essa é a natureza (caída) humana.


Sobre isso, o apóstolo Paulo disse aos Romanos: "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus."


Até mesmo aos olhos dos homens – pressupondo que de Freud não provém revelação divina – é possível compreender que o ser humano é mau; não há um justo sequer; até as crianças são rápidas em buscar seus próprios e egoístas desejos. É natural ao homem enganar, matar, roubar.


A civilização surge, então, de acordo com Freud, como um grande acordo no sentido de reduzir o risco. O princípio do prazer leva as pessoas a buscarem os seus desejos; na impossibilidade de conseguirem o que querem, buscam o menor des-prazer. Os seres humanos, coletivamente, perceberam que, ao criar regras e abrir mão de desejos individuais – tais como dormir com a mulher do vizinho ou possuir alguma propriedade alheia – se protegeriam de um des-prazer maior – tal como ter sua mulher ou seu carro roubados por alguém.
Mas, apesar de termos mudado o modo como vivemos, nós somos os mesmos. Por dentro ainda temos os mesmos instintos maus. A luta por refrearmos os nossos desejos em troca de uma moral construída de fora pra dentro é a fonte da angústia da civilização. "A sociedade civilizada é perpetuamente ameaçada pela desintegração, através da hostilidade primária dos homens, uns contra os outros", diz Freud.


Nesta ótica, não é possível enxergar saída. Por nós mesmos, somente produziremos angústia. Assim caminha a sociedade: repressão de instintos que gera angústia e insatisfação, terminando por explodir em loucura. Pelos frutos, conhecereis a árvore...  Como poderemos dar bons frutos se somos nascidos e formados de espinheiro? Se nosso DNA é de abrolhos, como podemos dar figos?


Certamente, Freud não poderia compreender o novo homem.  Ele só conhecia a natureza caída do velho homem. Negar-se a si mesmo não faz parte do repertório da pessoa freudiana. Não há salvação para esse velho homem, é preciso enterrar a velha criatura e nascer de novo, com nova natureza, novos instintos, nova vida.


A mudança de caminho só é possível se encontrarmos a cura para a natureza humana; uma cura de dentro pra fora. Sem o sacrifício de Jesus, nada podemos fazer. "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer"(Jo 15:5-6).


 Para nosso consolo, Paulo diz que nossa esperança está na fé justificadora, em Jesus: "... a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo (é) para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus"(Romanos, 3:22-26).


O sacrifício oferecido diariamente pelos sacerdotes do antigo testamento não tinham efeito duradouro para remissão de pecados. A cada dia, um novo sacrifício era preciso. Contudo, o sacrifício de Jesus foi definitivo, “com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados.” Jesus, no seu sacrifício perfeito nos aperfeiçoou o espírito. Podemos mudar de trilha, seguir um caminho que não nos guie à angústia.


É isso que fazemos? Nem sempre. A mente ainda encontra-se presa à carne. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Pela fé em Jesus somos redimidos de nossos pecados, e Deus não mais se lembrará deles. Nossa velha criatura está para sempre enterrada, e somos nascidos de novo. Mas a santificação provém do hábito. Precisamos diuturnamente crucificar nossa carne e subjugar a mente à obediência de Cristo. É fé exercida com esforço, disciplina. Fé de atleta. Fé militar. Fé espartana.


Se apenas houvesse a porta estreita, bastava que nos espremêssemos momentaneamente. Mas não é uma porta, é um caminho. Quão longo é esse caminho? Deve ser tão longo quanto for a nossa vida nessa Terra... Um longo caminho estreito – que parecerá bem menos longo quando, finalmente, tivermos cruzado a porta. Ufa!... Até lá, contudo...


Este é o desafio da fé em Jesus: ela precisa ser vivida, respirada, exercida diariamente, passo a passo. Precisamos escolher a cada passo prosseguir no (cada vez mais) estreito caminho. Tal escolha é artificial, psicótica, contrária à natureza humana, contrária ao desejo e ao princípio do prazer. É loucura. Por isso é preciso morrer, porque não é possível conservar a natureza humana e, ao mesmo tempo, permanecer na videira.


A mensagem de Cristo é mensagem de vida, eterna e em abundância, mas diariamente sentencia de morte o velho homem, a velha criatura, as coisas passadas. É boa nova acerca da morte para a lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencermos a outro corpo, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos.


 “Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra." (Romanos 4:5-7)

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