terça-feira, 1 de setembro de 2009

A voz que arde no peito

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, 
que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, 
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 
 E não sede conformados com este mundo, 
mas sede transformados pela renovação 
do vosso entendimento, para que experimenteis qual 
seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:1,2

Jesus, no princípio do seu ministério, recrutou para si os seus apóstolos, homens enviados a cumprir a missão multiplicadora do evangelho do Reino. Por meio desses homens, o mundo veio a conhecer a mensagem de Jesus. O processo de seleção desses homens extrapola, em muito, a lógica humana – mais uma evidência da divindade do Rabi.
Se hoje fossemos escolher doze dentre todos os homens da terra, para divulgar uma mensagem fundamental, confrontando todo e qualquer obstáculo, certamente optaríamos por um perfil bem diferente do escolhido por Jesus. “E, andando junto do mar da Galiléia, viu Simão, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens. E, deixando logo as suas redes, o seguiram.” (Marcos 1:16-18)
Os homens que Jesus escolheu eram pescadores. Ele recrutou, para serem seus apóstolos, homens que nada conheciam além da rede e do mar. Os advogados da mensagem do Reino – essa nova doutrina, a qual seria alvo de inúmeros óbices por milhares de anos a fio – eram iletrados e rudes.
Contudo, o preço pago pelos amigos de Jesus foi enorme. Eles passaram em uma prova pela qual muitos de nós não passariam. Para aqueles homens, a praia era a sua vida – e esse foi o preço para seguirem a Jesus. A vida de pescadores cabe inteira entre o mar e a praia. Ano após ano, geração após geração, o pescador se alterna entre jogar a rede ao mar e arrastar a rede para a praia. De avô para pai, filho e neto, o pescador é fruto-do-mar. No mar ele vive e do mar que ele faz viver a sua família.
“E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, E logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os jornaleiros, foram após ele.” (Marcos 1: 19-20)
A prova exigida por estes homens significava abandonar tudo o que eles conheciam a respeito da vida. Toda a tradição de uma família. Seguir a Jesus mudaria até mesmo os seus nomes – não mais “Tiago, pescador, filho de Zebedeu”. Deste dia em diante, deixavam para trás o ofício e o pai. Teriam novos nomes, nova família.
Os pescadores-apóstolos ouviram a voz do Pai, ardendo em seus peitos. Atentaram para a voz que não é possível calar. Ouviram o espírito ordenando: “Não diga: sou apenas um pescador. A todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, falarás” (Jeremias 1:7). Ao ouvir a vós do Espírito, toda uma vida inteira se torna pouco para se deixar para trás.
Hoje, os nossos mundos vão bem além do mar. O horizonte do homem moderno atravessa os mares e alcança o outro lado do globo. Nossas vidas são muito mais do que a água e a praia. Em nossos dias, já não importam os valores da tradição: podemos decidir que destino seguir. Já não temos compromisso com nossos pais: optamos pela vocação que nosso coração nos dita. Somos livres para escolher caminhos e ofícios.
Temos muito menos a perder que os Apóstolos de Jesus, mas não estamos fazendo mais do que eles pela vinda do Reino.
Alguns de nós sentem que a vida não é como Deus gostaria que fosse. Desejam viver em um planeta mais justo, menos violento, menos egoísta, mais humano. Mas os valores que ditam esse tempo não são humanos, altruístas, justos... os valores deste séculos são o reflexo do que ele é. Este tempo clama por ajuntar, produzir, realizar.
O barulho de nossos dias abafou a voz do Espírito. Não mais nos arde a Voz no peito. Deixamos que nossos corações e mentes se acostumassem com os valores dessa era. Fomos conformados – isto é, tomamos a forma desse tempo: trabalho demais, oração de menos, descuido do espírito, da alma e da família. Por que ficaram surdos ouvidos de nossas almas?
Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto. Onde vossos pais me tentaram, me provaram, e viram por quarenta anos as minhas obras. Por isso me indignei contra esta geração, E disse: Estes sempre erram em seu coração, E não conheceram os meus caminhos. (Hebreus 3:7-10)
A mensagem do Reino exige de nós uma ruptura com a vida. O que Deus requer de nós é a nossa vida por inteiro, não importando seus limites territoriais. Esteja ela restrita ao mar e à praia, ou estendida por cinco continentes, o preço é o mesmo: inteira.
Jesus deixou claro que o Reino não pode esperar. Nada é mais urgente do que a vinda do Messias, que chegará antes que estejamos prontos, assim com vem um ladrão. Ao ouvirem a voz do Espírito chamando, alguns talvez retruquem: - sou muito jovem. Outros: - sou muito velho. Ou: Sou muito ocupado; tenho muitos bens; muitas obrigações. A todos que ouvem a Voz de Jesus e se voltam ao mundo, ele mesmo já disse: Ninguém que lança a mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus (Lucas 9:62).
Oremos para que Deus nos dê ouvidos atentos para a sua voz. Que possamos ouvir a voz que diz: aonde te enviar, IRÁS.

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